Lacen e Fiocruz detectam variantes mais agressivas do Coronavírus; cepas aumentam a reinfecção em Rondônia

Por Luiz Albuquerque 30/03/2021 - 15:03 hs

A rotina de trabalho dos biomédicos, farmacêuticos, biólogos e demais profissionais do Laboratório Central de Saúde Pública de Rondônia (Lacen) passou a ser prolongada desde os primeiros casos de Covid-19, registrados a partir de março de 2020. As atividades entram pela madrugada com as atenções voltadas para análises que possam detectar a alta transmissibilidade, bem como a agressividade das novas variantes do coronavírus em Porto Velho e no interior do Estado.

Na visão científica, esse trabalho é um dos maiores desafios para a rede de saúde mundial. As novas cepas, chamadas de “linhagens” do vírus, são detectadas com diagnósticos no PCR (proteína C reativa) quantitativo por um período mais longo. PCR indica a presença de alguma inflamação ou infecção no corpo.

A chefe do laboratório de Virologia Molecular da Fundação Oswaldo Cruz Rondônia (Fiocruz-RO), Deusilene Vieira, enfatiza que são selecionadas as amostras e, posteriormente encaminhadas para análise por sequenciamento de novas gerações. “Trata-se da avaliação do genoma completo”, explicou Deusilene.

Tanto a Fiocruz quanto o Lacen têm identificado variantes no Estado desde dezembro de 2020. Prova disso foi que a 1ª remessa de resultados do sequenciamento de amostras pela Rede Oficial do Ministério da Saúde, recebida na segunda-feira (29), que mostrou a presença das seguintes cepas circulantes: 27.5% da B.1.1.33 (já está em todo o território nacional desde 2020); 18% da B.1.1.28 (nova cepa com mutações que indicam maior transmissibilidade com circulação a partir do 2º semestre de 2020), 45.4% da P1 (nova cepa descrita e originária do Amazonas, com características de maior transmissibilidade, maior agressividade e mutações relacionadas a possíveis casos de reinfecções); e 9.1% da P2 (cepa descrita no Estado do Rio de Janeiro com características de grande transmissibilidade e também relacionadas a possíveis casos de reinfecção).

O acompanhamento aos pacientes auxiliará na resposta do Sistema Único de Saúde (SUS) para o controle da pandemia e para o desenvolvimento de vacinas efetivas no País, a exemplo da Rede de Influenza, que produz sistematicamente vacinas de forma anual direcionadas aos vírus circulantes, conforme lembra a diretora do Lacen, Cicileia Correia da Silva.

Esforço

“O Governo de Rondônia, por meio da Secretaria de Estado da Saúde (Sesau) e o Lacen, utiliza todos os seus esforços, de forma a não comprometer a continuidade de suas atividades e associando suas ações em paralelo e em concordância com o Ministério da Saúde e com a Rede Nacional de Vigilância da Influenza e outros Vírus Respiratórios, visando sempre a saúde da população”, disse Cicileia.

Desde o ano passado, o Lacen precisou formar uma equipe capacitada para o diagnóstico molecular do coronavírus, e em número relativamente adequado ampliou as atividades antes desenvolvidas apenas em dias úteis, no intervalo de 7h às 19h, para períodos noturnos até às zero hora, e finais de semana de 7h à meia noite. Eventualmente, devido à alta demanda de amostras, monta-se um turno extra de trabalho entre zero hora às 7h.
“Fizemos coletas nos municípios de Alvorada do Oeste, Ariquemes, Cacaulândia, Nova União, Porto Velho e Rolim de Moura”, informou a pesquisadora Deusilene Vieira.

O acompanhamento dos pacientes levou a Fiocruz a constatar pacientes com duas a quatro semanas com o vírus identificado na amostra biológica. De acordo com informação de Deusilene, a evolução para casos moderados e graves carecem mais tempo de estudos. “Nós sabemos que as variantes têm esse perfil, mas precisamos comprovar tudo com estudos comparativos”, assinalou.

Outra característica apontada pela doutora Deusilene é a presença de mutações correlacionadas com possibilidade de reinfecção. “Praticamente, em 60% das amostras foi observada essa situação”, disse.

Uma das primeiras mutações relacionadas à reinfecção é a E48k presente da proteína Spike, alvo dos anticorpos produzidos pelo sistema imunológico depois da contaminação pela Covid-19.

Para a pesquisadora, além dos cuidados com o uso de máscaras, álcool em gel e higienização das mãos e objetos, a redução da circulação de pessoas é uma das principais formas de reduzir o contágio. “Quanto menos pessoas estiverem circulando, menor a chance de surgir novas variantes, ou de sua perpetuação; assim podemos relacionar a permanência das existentes com o surgimento de outras”, avalia.

Sequenciamento genético

Desde o ano 2000 já existe a Vigilância Genômica de vírus respiratórios no Brasil, feita pelos Centros Nacionais de Influenza (da sigla em inglês, NIC), presentes no Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz/RJ), Instituto Adolfo Lutz (IAL/SP) e Instituto Evandro Chagas (IEC/PA).

“Com esta visão de Vigilância Genômica, o Ministério da Saúde solicitou o envio mensal aos NIC de referência das amostras inconclusivas. São 10 amostras positivas e 10 amostras negativas para Sars-CoV-2, para que elas possam ser submetidas ao sequenciamento genético e/ou fazer o diagnóstico complementar de vírus respiratórios (no caso das amostras negativas)”, explicou a diretora do Lacen.

Para ampliar a rede de Vigilância Genômica, o Ministério está se preparando para lançar a técnica de sequenciamento genético nos laboratórios estaduais, aumentando ainda mais a possibilidade de estudo das mutações sofridas pelo Sars-CoV-2.

Mais de 218 mil exames

► Desde o ano passado, o Lacen realizou até esta semana 218.659 exames por RT-TPCR pra detecção de Sars-CoV-2. Deste total, 95.422 exames foram realizados em 2021, sendo 44.535 casos detectáveis para o vírus.

► O Lacen é responsável pela execução de exames de diagnóstico diretos (exames confirmatórios) demandados pelos SUS, tanto relacionados aos agravos de notificação compulsória determinados pela vigilância sanitária, quanto os diversos demandados por toda rede hospitalar pública e privada do Estado de Rondônia.

► Seus serviços prestados, intermediários e finalísticos, de interesse de saúde pública são imprescindíveis para o andamento de inúmeros procedimentos de atenção à saúde e de vigilância epidemiológica, sanitária e ambiental. Logo, o seu status na rede de atendimento da Sesau exige da unidade os mais altos padrões de precisão e qualidade de seus exames.

► Um dos papéis institucionais estabelecidos pelo Sistema Nacional de Laboratórios de Saúde Pública (Sislab) é proceder os exames laboratoriais de alta complexidade e precisão realizados pela técnica de biologia molecular, e, metodologia de reação em cadeia da Polimerase por Real Time (qPCR-Real Time). São exames utilizados tanto para o atendimento da Covid-19 quanto para os exames de HIV, Hepatites virais, arboviroses, vírus respiratórios da família influenza, resistência bacteriana, dentre outros, a fim de oferecer exames laboratoriais “padrão ouro” para suporte diagnóstico em situações de surtos epidemiológicos de vírus e bactérias em Rondônia.